sexta-feira, 27 de março de 2009

Formiguinhas

Na animação, "Vida de Inseto" da Pixar,
as formigas são manipuladas pelos gafanhotos,
que todos os anos exigem uma quantia de comida.
Se as formigas não cumprem essa exigência,
os gafanhotos ameaçam atacar o formigueiro.
Todos vivem morrendo de medo dos "monstros"
até que uma formiga se revolta,
é Flik, uma formiga cansada de ser oprimida,
que sai em busca de outros insetos dispostos
a ajudar o formigueiro a combater os gafanhotos.
Flik volta com um grupo de "saltimbancos",
um besouro, uma borboleta,
um louva-a-deus, um bicho-pau,
uma joaninha, uma larva e as formigas,
que se unem para criar uma
"resistência"
contra os gafanhotos.

Flik consegue motivar esse grupo de assustados,
e estimula a qualidade de cada um,
mesmo sendo tão visível os defeitos do grupo.

Tudo vai bem, todos trabalham unidos,
constróem um pássaro enorme,
o único animal que o poderoso Hopper,
o líder dos gafanhotos,
tem medo.
O pássaro fica pronto,
a estratégia está definida.
Até que as formigas descobrem que
os guerreiros tão valentes não passam de
"palhaços de circo",
e tudo vai por água abaixo.
O medo volta a imperar,
e todo o esforço da construção daquela
defesa foi perdido.

Flik se junta aos saltimbancos e vai embora,
triste, frustrado e em uma depressão brava.

Como se parece com a realidade!

Como nós nos impressionamos com os títulos,
com os cargos, com as posições sociais.

Idealizamos as pessoas,
criamos nossos heróis,
e na primeira demonstração de "fraqueza",
toda essa admiração acaba.

Mentiras bem
contadas acabam virando verdade,
e verdades mal contadas,
acabam em descrédito.

Quantas vezes nós
acreditamos em alguma coisa,
em um plano que nós traçamos,
numa meta que cultivamos,
e em algum momento descobrimos
uma pequena falha,
um erro na nossa estratégia
e o que fazemos?

Jogamos tudo fora,
desistimos da luta.

Basta uma visão diferente,
uma pessoa mal intencionada,
um pessimista da vida vir com idéias
de derrota e muita gente que tem tudo
para ser gigante vira "formiguinha",
amedrontando diante de "gafanhotos".

Na nossa vida,
os problemas são os gafanhotos
que resolveram que vão levar a nossa paz,
que vão derubar a nossa persistência,
mas, nós, formiguinhasa,
podemos resistir,
nos unirmos com outras "formiguinas"
que tenham os mesmos sonhos,
os mesmos projetos, ideais de vitória,
e assim, unidos,
formando um único bloco,
nos agigantamos e os gafanhotos fogem,
caem por terra.

Assista ao desenho,
e veja o impacto de uma
imagem na nossa cabeça.
Somos o que acreditamos ser,
nada mais, nada menos.

Por isso,
acredite nas suas possibilidades,
na força que está ai dentro,
pronta para afugentar os gafanhotos,
que vão ver além da formiguinha,
vão ver um vencedor!

Eu acredito em você

TEXTO: Paulo Roberto Gaefke
* * * * *
Texto enviado aos amigos do Grupo Mensagem de Domingo,
dia 29 de Março de 2.009.

sexta-feira, 20 de março de 2009

O amanhã não nos pertence

Viver o dia-a-dia é a mais natural
e a mais difícil de todas as coisas.
Contentar-se do presente,
do aqui e do agora exige de nós um grande
auto-controle dos sentimentos e emoções.

As coisas que nos fizeram
vibrar no passado vibram ainda hoje,
mas de maneira menos intensa,
com gosto de saudosismo.
Passou e ficou de forma leve,
como as lembranças das férias ou das primeiras
batidas incontroláveis do coração.

As coisas futuras podem nos alegrar
(uma felicidade esperada)
ou nos fazer sofrer intensamente,
antes mesmo que o esperado chegue,
se chegar.

Não controlamos o que passou,
porque aconteceu e não sabemos voltar atrás
e não controlamos o futuro,
apesar de tentarmos escolher minuciosamente
os bons caminhos.

O ontem faz parte
definitivamente das nossas vidas,
nossa história e nossas
entranhas e não podemos negá-lo,
mas o amanhã não nos pertence.
Ele é apenas uma possibilidade,
um sonho ou um pesadelo,
uma nuvem que se aproxima mas que pode,
com um sopro do vento,
ir em outras direções.

O hoje sim é o que temos
de real e nos pertence de todo.

Antecipar alegrias e vitórias faz-nos bem,
se mantemos os pés firmes no chão;
antecipar perdas e partidas provoca-nos dores
inúteis e frequentemente maiores ainda que o que seriam,
pois já pela antecipação se multiplicam.

Devemos aprender a acolher o hoje
e fazer dele o melhor que podemos,
com todos os meios que tivermos.
Sermos felizes,
fazermos outros felizes,
nos bastando de cada segundo oferto como
um presente Divino que não se oferecerá
uma segunda vez.

* * * * *

Comentários da Autora

Não sei qual a porcentagem de pessoas que consegue viver o hoje
sem se deixar dominar pelo passado ou pelo futuro.
A ansiedade é a prova de como o futuro nos atinge e modifica nosso presente,
antecipa problemas, lágrimas e noites de insônia.

Seria ideal se deixássemos o amanhã para amanhã,
o futuro para quando ele chegar e o passado
dentro de uma caixinha de recordações.
Não chegamos ainda a esse ponto de perfeição,
não aprendemos a olhar os lírios,
nem os pássaros e menos ainda as mais formosas flores.
Não aprendemos a fé dos que continuam de pé
quando o coração está de joelhos e perdemos
os melhores momentos da nossa vida com a cabeça
nas nuvens quando é de terra firme que ela precisa.
Não nos entregamos o suficiente aos cuidados
de Deus e não apenas não florecemos,
como impedimos outros de florecerem ao nosso redor.

Perdemos a graça da presença dos que estão aqui hoje,
do que podem nos dar e receberem de nós.
Nos preocupamos demasiadamente
com o que nos faltará amanhã
e com isso aproveitamos bem menos
do que nos é oferecido hoje.
O amanhã não nos pertence...
ele pertence Aquele que cuida de nós,
que nos ouve em silêncio
e chora pela nossa precipitação.
O amanhã pertence à Deus,
que nos dá a cada dia o bastante para
chegarmos ao dia seguinte.

TEXTO E COMENTÁRIOS: Letícia Thompson
* * * * *
Texto enviado aos amigos do Grupo Mensagem de Domingo,
dia 22 de Março de 2.009.

segunda-feira, 16 de março de 2009

A arte de ser alguém

A solidão e a invisibilidade do ser
caminham de mãos dadas.
Sozinho é aquele que não aparece para os outros,
que tem medo até de se olhar no espelho
porque a própria imagem aparece como
uma companhia inexistente.

Há pessoas que passam a existência
em busca de aprovação,
sem realmente estar nessa busca e sentem-se
sempre como uma pálida cor no quadro da vida.

Elas querem ser vistas, amadas,
apreciadas, mas não saem do lugar,
ficam sempre à espera que um
reconhecimento haja.

Mas o que torna uma pessoa visível ou
invisível aos olhos dos outros?
Ninguém precisa ser importante no sentido
de possuir coisas ou ser um ser extraordinário
para que possa ser visto ou amado.

Não são as outras pessoas que nos
tornam visíveis ou invisíveis,
solitários ou cerdados de pessoas,
somos nós.

Quando damos de nós,
vamos deixando
pedacinhos do nosso eu nos outros,
de maneira que vamos nos tornando
presentes e inesquecíveis.
As pessoas sempre querem se aproximar
daquilo que lhes faz bem, que é positivo,
estão sempre voltadas para aquilo que vai
valorizá-las de alguma forma.

Quem reclama que não se sente amado,
não se sente procurado,
que acha que passa pela vida como uma
forma vazia e sem importância,
deveria ver o mundo
pelo outro lado da janela,
de fora para dentro.

Faça o contrário,
aja, ame,
torne-se alguém pelo menos para alguém,
seja aquilo que você gostaria que os
outros vissem em você.

Ninguém deve ter o poder de nos transformar,
nós devemos ter o poder e a possibilidade
de trabalhar do nosso interior para o exterior.

Somos nós que nos
construímos ou nos destruímos,
que aparecemos ou desaparecemos.

As pessoas vêm
em nós o que parecemos a elas.
Elas não nos fazem,
a menos que permitamos.
Nós nos fazemos!

Se sentimos essa necessidade
de sermos queridos e apreciados,
queiramos e apreciemos.
É impossível esconder uma
luz numa noite escura e,
creiam,
o mundo atual é para muitos uma
noite escura e sem estrelas.

Sejamos então uma luz.
E as pessoas com necessidade disso virão a nós.
Estaremos assim cumprindo nossa missão,
daremos o que precisam e recuperaremos
em nós o que precisamos para nos
sentir inteiros e saciados.

Embora as pessoas
façam parte da nossa história,
elas não a escrevem.

Nós o fazemos,
com todos os instrumentos que temos
ou aqueles que nos inventamos.

As marcas dos nossos
passos não podem ser deixadas
que por nós mesmos.

TEXTO: Letícia Thompson
* * * * *
Texto enviado aos amigos do Grupo Mensagem de Domingo,
dia 15 de Março de 2.009.
Meu lado mulher

Meu lado mulher
se incomoda em receber mensagens
apenas um dia por ano (8 de março),
enquanto que meu
lado homem se enche com 364 dias.
Talvez seja necessária esta efeméride,
dor recente de uma antiga cicatriz.
Porque se vive numa sociedade machista:
matrimônio, o cuidado do lar; patrimônio,
o domínio sobre os bens.
O marido possui o carro, a casa e a mulher,
que inclusive, em alguns países,
incorpora o sobrenome da família dele.
Ele exige que limpe a casa todo dia.
Manda o carro para a oficina ao menor defeito.
À mulher, ser multifacetado,
cabe o dever de cuidar da casa,
dos filhos,
das compras e do bom humor do marido,
que nem sempre se lembra de cuidar dela.

Meu lado mulher nunca viu o marido
gritar com o carro,
ameaçá-lo ou agredi-lo.
Enquanto nem ela é sempre tratada
com tanto respeito.
Na Igreja Católica os homens têm acesso
aos sete sacramentos.
Podem até ser ordenados sacerdotes e,
mais adiante,
obter dispensa do ministério e
contrair matrimônio.
As mulheres,
consideradas pela teologia
vaticana um ser naturalmente inferior,
só têm acesso a seis sacramentos.
Não podem receber a ordenação sacerdotal,
mesmo tendo merecido
de Jesus o útero que o engendrou;
o seguimento de Joana,
de Susana e da mãe dos filhos de Zebedeu;
a defesa da mulher adúltera;
o perdão da samaritana;
a amizade de Madalena,
primeira testemunha da sua ressurreição.

Meu lado mulher
tem pavor da violência doméstica;
do pai que assedia a filha,
enviando-a a perdição da prostituição;
do patrão que exige favores sexuais de sua funcionária;
do marido que levanta a mão para profanar
o ser que deu a luz a seus filhos.
Diante do televisor ou de um molho de revistas
meu lado mulher se estremece:
Cala a boca, Magda! Ela é burra,
a imbecil que move as cadeiras no fundo do cenário,
se mete na banheira do Gugu,
se expõe na casa do brother,
se associa à publicidade de cervejas e carros,
como um adereço a mais de consumo.

Meu lado mulher trata de resistir
diante do implacável jogo da
desconstrução do feminino:
tortura do corpo em academias de ginástica,
anorexia para manter-se esbelta,
vergonha das gorduras,
das rugas e da velhice,
entrega ao bisturi para que amolde a carne
ao gosto da clientela da carnificina virtual,
o silicone para ressaltar protuberâncias.
E manter a boca fechada,
até que haja no mercado um chip transmissor
automático de cultura e inteligência que
se possa enxertar no cérebro.
E engolir antidepressivos para tratar
de encobrir o buraco no espírito,
vazio de sentido, ideais e utopia.

Meu lado mulher
se esforça por se livrar do modelo
emancipatório que adota,
como paradigma, meu lado homem.
Será que ela tenta não querer ser como ele?
Navega em mares nunca dantes navegados,
rumo ao continente feminino,
onde as relações de gênero serão de alteridade,
porque o diferente não se fará divergente.
Aquilo que é só terá plenitude em
interação com seu contrário.
Como acontece em todo verdadeiro amor.

TEXTO: Frei Betto
* * * * *
Texto enviado aos amigos do Grupo Mensagem de Domingo,
dia 08 de Março de 2.009.